20.08.2021

Uma palavra doce para os de dócil coração

Jorisvo-Istock

O abandono e o escândalo dos discípulos de coração endurecido levam Jesus a lançar o desafio aos demais discípulos: “Por acaso, vós também quereis ir embora?” (Jo 6,67). Com essas palavras, Jesus exclui toda violência e toda obrigação do ser cristão. Ser cristão por obrigação e não por gratidão é uma lástima! (Cf. São João Crisóstomo, Homilias sobre João,47,3). Bem pior do que casar por obrigação!

Jesus não nos obriga a segui-lo. Não se impõe, não impera, apenas persuade, convida, atrai, reina suavemente. Uma ditadura do Evangelho é um absurdo dos mais aberrantes, uma contradição em si mesma. Muitas vezes, na história, os que estão no poder caem nessa aberração: assenhoram-se da autoridade do Evangelho para impor ao mundo, à sociedade, um cristianismo e uma cristandade sem “cristidade”. Então, os homens acabam não seguindo Cristo, por causa da presunção dos que se chamam “cristãos”. Seguem o espírito do mundo, em vez de seguir o modo de ser de seu Mestre (Cf. EG 93).

 Vem, então, a conclusão de todo o ensinamento, expressa pela resposta de Pedro, que fala em nome de todo o grupo: “A quem iremos, Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna! Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus!” (Jo 6,68). Para os que foram embora, as palavras de Jesus pareciam duras demais. Mas, para os que ficam são palavras que conduzem à vida verdadeira, à vida plena, à vida sem limites. São “palavras de vida eterna”. Por isso, vale a pena estar junto desse Mestre, segui-lo, ir ao seu encalço, mesmo quando não nos achamos em condição de ter toda a clareza a respeito de sua mensagem. As palavras de Pedro são palavras que conotam a estima, a grande afeição, o bem-querer do discípulo. É como se Pedro dissesse: “Tu és o mais querido!” No amor, mais que conhecer, importa que se ame!

 No mundo ou caminho da fé, do amor, primeiro e sempre vem a graça do encontro ou o encontro da graça, que desperta a afeição que, por sua vez, leva ao compromisso do seguimento. A partir da fé, abre-se uma fenda que leva à compreensão. Por isso, Pedro diz: “Nós temos fé e sabemos que tu és o Santo de Deus!” (Jo 6, 69). A fé traz consigo seu próprio saber. É um saber feito de experiência, de uma evidência que nasce e cresce do próprio encontro e da afeição que é graça desse mesmo encontro. Nessa fé e nesse saber, na mente de Pedro, dos Doze e de todos os que acolhem Jesus no Espírito, brilha esta evidência e alegria: “Tu és o Santo de Deus!” Isso é: tu és a Vida Eterna mesma; o que tu és, comunicas em tua carne e em teu sangue (Cf. Santo Agostinho, ibidem).

Frei Dorvalino Fassini, OFM