O AMOR DE FRANCISCO PELO CRIADOR EM TODAS AS CRIATURAS.
(1Cel 29, 80.81)
Seria muito longo e praticamente impossível enumerar e descrever tudo que o glorioso pai São Francisco fez e ensinou enquanto viveu na carne. Quem poderia contar o afeto que tinha para com todas as coisas de Deus? Quem seria capaz de mostrar a doçura que sentia quando contemplava nas criaturas a sabedoria do Criador, seu poder e sua bondade? Na verdade, enchia-se muitas vezes de uma alegria admirável e inefável quando olhava para o sol, a lua, as estrelas e o firmamento. Que piedade simples, e que simplicidade piedosa! Tinha um amor enorme até pelos vermes, por ter lido sobre o Salvador: Sou um verme e não um homem. Recolhia-os por isso no caminho e os colocava em lugar seguro, para não serem pisados pelos que passavam.
Que poderei dizer mais sobre as outras criaturas inferiores, se até para as abelhas, para que não desfalecessem no rigor do frio, fazia dar mel ou um vinho de primeira? A operosidade e o engenho das abelhas exaltavam-no a tão grande louvor de Deus que muitas vezes passou o dia louvando a elas e às outras criaturas. Da mesma maneira que no tempo antigo os três jovens colocados na fornalha ardente se sentiram convidados por todos os elementos para louvar e glorificar o Criador de todas as coisas, também este homem, cheio do espírito de Deus, não cessava de glorificar, louvar e bendizer o Criador e Conservador do universo por meio de todos os elementos e criaturas.
Que alegria ele sentia diante das flores, vendo sua beleza e sentindo seu perfume!
Passava imediatamente a pensar na beleza daquela flor que brotou da raiz de Jessé no tempo esplendoroso da primavera e com seu perfume ressuscitou milhares de mortos. Quando encontrava muitas flores juntas, pregava para elas e as convidava a louvar o Senhor como se fossem racionais. Da mesma maneira, convidava com muita simplicidade os trigais e as vinhas, as pedras, os bosques e tudo que há de bonito nos campos, as nascentes e tudo que há de verde nos jardins, a terra e o fogo, o ar e o vento, para que tivessem muito amor e fossem generosamente prestativos.
Afinal, chamava todas as criaturas de Irmãs, e de uma maneira especial, por ninguém experimentada, descobria os segredos do coração das criaturas, porque na verdade parecia já estar gozando a liberdade gloriosa dos filhos de Deus. Na certa, ó bom Jesus, ele que na terra cantava o vosso amor em todas as criaturas, agora está nos céus louvando-vos com os anjos porque sois admirável.
Ninguém é capaz de compreender quanto se comovia quando pronunciava vosso nome, Senhor Santo. Parecia um outro homem, um homem de outro mundo, todo cheio de júbilo e do mais puro prazer. Por isso, onde quer que encontrasse algum escrito, divino ou humano, na rua, em casa ou no chão, recolhia-o com todo o respeito e o colocava em algum lugar sagrado ou decente, pensando que o escrito poderia ser do Senhor ou pelo menos conter seu santo Nome.
Um dia, um frade lhe perguntou por que recolhia também os escritos dos pagãos, onde não estava o nome do Senhor, e ele respondeu: “Meu filho, contêm as letras com que se escreve o gloriosíssimo nome do Senhor. O que há de bom neles não pertence aos pagãos nem a ninguém em particular, mas somente a Deus, ‘de quem São todos os bens”. Outra coisa admirável é que, quando mandava escrever alguma carta de cumprimentos ou conselhos, não permitia que se apagasse alguma letra ou sílaba, mesmo que estivesse sobrando ou fosse errada. (1 Cel 29. 80.81).