26.08.2021

Celebramos, com alegria, a Palavra de Deus inserida em nosso coração.

 

  • A lei em sua origem

No Antigo Testamento, a Lei tem sua origem na iniciativa de Deus (Jahvé) que, comovido pelos sofrimentos de Israel na escravidão do Egito, proclama: Eu vos tomarei como meu povo e serei vosso Deus. Assim, sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus, que vos liberta dos trabalhos impostos pelos egípcios. Eu vos introduzirei na terra que, com mão levantada, jurei dar a Abraão, Isaac e a Jacó e vô-la darei em possessão (Ex 6,7-8).

 Por isso, embora, às vezes, o Antigo Testamento fale em leis e decretos, no plural, como na leitura de hoje, o entendimento é sempre de uma Lei única – a Torá – de uma Palavra única, de um Mandamento único, que nasce do amor misericordioso de Deus, o Senhor. Consequentemente, no Deuteronômio, o povo não é meramente confrontado com um código de leis, mas posto diante do Deus vivo, que não quer ficar escondido atrás das leis. Assim, em seu discurso, elas soam como exortações. Jahvé fala como pai, desejando que o cumprimento da Lei se dê no espírito da alegria e no vigor da gratidão para com sua ação amorosa e gratuita na história libertadora de Israel.

Também nesse sentido os mandamentos da Lei são as condições que se requerem para que esse vínculo de aliança no amor se mantenha firme. As proibições põem um limite para que se evite aquilo que destrói esse vínculo; o negativo, por sua vez, procura salvaguardar o positivo do vínculo da aliança no amor. É como o sinal vermelho dos semáforos de nossas cidades: o proibido é para olhar para as pessoas, a fim de salvar-lhes a vida.

Por isso, para Miquéias, observar a Lei é amar a fidelidade de Deus, é aplicar-se a caminhar com Ele (Cf. Mq 6, 8). Para Amós, é odiar o mal e fazer o bem (Cf. Am 5,15). Já, para Isaías, a Lei tem um significado universal: que a aliança de Jahvé com Israel se estenda para todos os povos da terra (Cf. Is 2, 3).

Em resumo, os profetas chamam a atenção não tanto para a Lei, mas para sua origem: o encontro com Deus, a sua eleição gratuita, amorosa > a aliança.

  • Na lei e nos mandamentos do Senhor, a sabedoria e a inteligência do seu Povo

Para os profetas e antigos israelitas, a Lei não é apenas um significado, mas o próprio Deus fazendo-se próximo, dando-se, doando-se e marcando presença junto ao seu povo eleito, querido e preferido.

Por isso, todo desdobramento da Lei em mandamentos e normas tem como único objetivo a instrução e admoestação para que o israelita cultive um coração aberto e generoso para o encontro com o Deus vivo: Escuta, Israel! O Senhor, nosso Deus, é o Senhor que é Um. Amarás o Senhor, teu Deus, com todo teu coração, com todo teu ser, com todas as tuas forças. As palavras dos mandamentos que hoje te dou estarão presentes em teu coração… (Dt 6, 4-6). Eis a raiz de toda a ação do israelita: viver na escuta, na obediência amorosa de Deus.

  1. A busca de uma Religião pura e sem mancha (Mc 7, 1-8.14-15.21-23)

A Lei foi interpretada de uma maneira distorcida pelos fariseus, que se opunham a Jesus e a seu Evangelho. Eles se esqueceram da essência e do sentido da Lei e se apegaram ao legalismo. Nesse legalismo, a questão da pureza ritual tinha grande importância. E, insatisfeitos com o que a Torá prescrevia, inventaram preceitos instituídos por mera tradição humana. O ensinamento de Jesus, nesse Evangelho de hoje para seus discípulos, nos adverte para o discernimento entre a falsa e a verdadeira pureza.

Frei Dorvalino Fassini, OFM