17.04.2022

As cicatrizes do Ressuscitado

Deus o ressuscitou”. Isto é o que pregam com fé os discípulos de Jesus pelas ruas de Jerusalém, poucos dias depois de sua execução. Para eles, a ressurreição é a resposta de Deus à ação injusta e criminal daqueles que quiseram calar para sempre sua voz e destruir pela raiz seu projeto de um mundo mais justo.

Não devemos esquecer nunca que no cerne de nossa fé há um Crucificado a quem Deus deu razão. No próprio centro da Igreja há uma vítima à qual Deus fez justiça. Uma vida “crucificada”, mas vivida com o espírito de Jesus, não terminará em fracasso, mas em ressurreição.

Isto muda totalmente o sentido de nossos esforços, penas, trabalhos e sofrimentos por um mundo mais humano e uma vida mais feliz para todos. Viver pensando nos que sofrem, estar perto dos mais desvalidos, dar uma mão aos indefesos … seguir os passos de Jesus, não é algo absurdo. É caminhar para o Mistério de um Deus que ressuscitará para sempre nossas vidas.

Os pequenos abusos que possamos padecer, as injustiças, rejeições ou incompreensões que possamos sofrer são feridas que um dia cicatrizarão para sempre. Temos de aprender a olhar com mais fé as cicatrizes do Ressuscitado. Assim serão um dia nossas feridas de hoje: cicatrizes curadas por Deus para sempre.

Esta fé nos sustenta por dentro e nos faz mais fortes para continuar correndo riscos. Pouco a pouco vamos aprendendo a não nos queixar  tanto, a não viver sempre nos lamentando do mal que há no mundo e na Igreja, a não sentir-nos sempre vítimas dos outros. Por que não podemos viver como Jesus dizendo: “Ninguém me tira a vida, sou eu que a dou”?

Seguir o Crucificado até compartilhar com Ele a ressurreição é, em última análise, aprender a “dar a vida”, o tempo, nossas forças e, talvez, nossa saúde por amor. Não nos faltarão feridas, cansaço e trabalho árduo. Mas uma esperança nos sustenta: um dia “Deus enxugará as lágrimas de nossos olhos, então não haverá mais morte nem pranto, nem gritos, nem fadigas, porque todo este velho mundo terá passado”.

José Antonio Pagola