Quem é Francisco de Assis?
Como qualquer homem, ele é grande e frágil. Sua conversão e caminho de santidade foram acontecendo gradualmente: jovem imaginando seu futuro mundano, transbordando de ambição e “escapando” de todo apelo do Senhor. Homem à beira da estrada, vagueando, a caminho, vereda na qual alegrias, sofrimentos, dúvidas, confrontações, decepções, desafios permanentes se entrechocam e ele toma como modelo supremo sem jamais separar dele “a humildade de Deus”, aquela “Palavra de Deus tomando carne em nossa humanidade e de nossa fragilidade escolhendo a pobreza” (2Carta aos Fiéis 4-5). Francisco toma como modelo a humildade do amor que se faz servo. Deixa seu raciocínio terreno e se prende à fé.
Frade menor, aglutinador de homens e mulheres tocados pelo evangelismo franciscano: “Viver o Evangelho no seguimento de Cristo” quer dizer acolher e implementar a Boa Nova, em espírito de fraternidade. Francisco se dirige à humanidade do mundo inteiro do presente e do futuro e pede mudança de vida, perseverança na verdadeira fé (RNB 23,7-11). Figura crística, única por seus estigmas, mas homem até seu último suspiro, Francisco, esse louco de Deus, expropriou-se de si mesmo, corpo, alma, espírito para se deixar habitar plenamente pelo Senhor. “E façamos sempre habitação e morada, para Ele que é o Senhor Deus todo poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo (RNB 22, 27).
Francisco de Assis é também um profeta, um místico, um teólogo digno de nota, um evangelizador, um apóstolo, um testemunha, um missionário, um santo. Não esqueçamos, no entanto, que ele é um homem simples, falível como cada um de nós e cuja imensa lucidez e fé convidam-nos a oitocentos anos e nos referir ao Evangelho. Ele e somente ele pode nos ajudar a responder com confiança e coragem aos desafios deste mundo. Para todo franciscano, o Evangelho é um livro de formação incontornável.
E a autora cita o Papa Francisco:
“Jesus é o primeiro e o maior evangelizador. Em qualquer forma de evangelização, o primado é sempre de Deus, que quis chamar-nos para cooperar com Ele e impelir-nos com toda a força de seu Espírito. A verdadeira novidade é aquela que o próprio Deus, misteriosamente, quer produzir, aquela que Ele inspira, aquela que Ele provoca, aquela que Ele orienta e acompanha de mil e uma maneira. Em toda a vida da Igreja, deve-se sempre manifestar que a iniciativa pertence a Deus, porque Ele nos amou primeiro (1Jo 4,15) e só Deus é que faz crescer (1Cor 3,7). Esta convicção permite-nos manter a alegria no meio de uma tarefa tão exigente e desafiadora que ocupa inteiramente a nossa vida. Pede-nos tudo, mas ao mesmo tempo nos dá tudo (Evangelii Gaudium, n. 12)
Como Francisco de Assis encara sua realidade? Sem mentira, sem transgredir com sua consciência. No amor. A vida é uma questão de prioridade e a prioridade é o amor. Ele se deixa mudar e se alimentar desse amor e o retribui generosa e gratuitamente. De onde ele tira esta força? Colocando no centro da sua vida a celebração eucarística. Para Francisco, Palavra, celebração e vida, estas três dimensões constitutivas da vida cristã, estão estreitamente ligadas e transparecem de modo natural em sua ação. Sua força está no fato de ter recolocado o mistério de Cristo no centro de sua fé. Deus se voltou para o homem: Ele deu, dá e se dá. Francisco de Assis reencontra o “mistério” (mistagogia) caro aos Padres da Igreja. Sua existência e sua espiritualidade conduziram-no a uma progressiva assimilação e configuração ao mistério de Cristo. Todo mistagogo encontra seu sentido colocando-se a serviço de Cristo – o grande mistagogo – e de sua obra. Esta vem ser a razão do êxito de São Francisco no testemunho da caridade.
François d’Assise, Le prophète de l’extrême, Suzanne Giuseppi Testut Nouvelle Cité, Bélgica, p. 24-26
Seleção e tradução de Frei Almir Guimarães