Comentando o Evangelho do 33º Domingo – Antônio Pagola
Os sinais de desesperança nem sempre são inteiramente visíveis, pois a falta de esperança pode disfarçar-se de otimismo superficial, ativismo cego ou secreta indiferença.
Por outro lado, são muitos os que não reconhecem sentir medo, tédio, solidão ou desesperança porque, de acordo com o modelo social vigente, presume-se que um homem que triunfa na vida não se pode sentir sozinho, aborrecido ou temeroso. Erich Fromm, com a sua habitual perspicácia, apontou que o homem contemporâneo tenta livrar-se de algumas repressões, como a sexual, mas vê-se obrigado a «reprimir tanto o medo e a dúvida como a depressão, o tédio e a falta de esperança».
Outras vezes defendemo-nos do nosso «vazio de esperança» mergulhando-nos na atividade. Não suportamos estar sem fazer nada. Necessitamos estar ocupados com algo para não enfrentarmos o nosso futuro.
Mas a pergunta é inevitável: o que nos espera depois de tantos esforços, lutas, ilusões e problemas? Não temos outro objetivo senão produzir cada vez mais, desfrutar cada vez melhor do produzido e consumir mais e mais, até que sejamos consumidos pela nossa própria caducidade?
O ser humano precisa de uma esperança para viver. Uma esperança que não seja «um invólucro para a resignação», como a daqueles que arranjam forma de organizar uma vida tolerável o suficiente para aguentar a aventura de cada dia. Uma esperança que não deve ser confundida tampouco com uma espera passiva, que só é, com frequência, «uma forma disfarçada de desesperança e impotência» (Erich Fromm).
O homem precisa, no seu coração, de uma esperança que se mantenha viva, ainda que outras pequenas esperanças se vejam malogradas ou até mesmo completamente destruídas.
Nós cristãos encontramos essa esperança em Jesus Cristo e nas suas palavras, que «não passarão». Não esperamos algo ilusório. A nossa esperança assenta no fato inabalável da ressurreição de Jesus. Desde o Cristo ressuscitado atrevemo-nos a ver a vida presente num «estado de gestação», como germe de uma vida que alcançará a sua plenitude final em Deus.
Paz e Bem!
Ir. Romana Rossetto