05.08.2022

Santa Clara, mulher de virtude!

 

“Mulher admirável por seu nome, clara de palavra e virtude”. Portanto, três proposições que sintetizam a totalidade da vida de Santa Clara: Clara de nome, Clara de palavra e Clara de virtude.

1. Por que o autor da Legenda (Biografia) de Santa Clara, afirma que esta Mulher admirável foi clara de virtude?

Para responder a esta pergunta devemos voltar o nosso olhar para algo muito importante que, hoje, graças a Deus, está documentado no conjunto das Fontes Franciscanas, ou mais especificamente, nas Fontes Clarianas: trata-se do Processo de Canonização de Santa Clara.

Vamos aos fatos históricos:

Clara de Assis faleceu no dia 11 de agosto de 1253, em grande fama de santidade. E passados apenas três meses após sua morte, ou seja, no dia 18 de outubro de 1255, em carta escrita da Basílica de São João do Latrão, o Papa Inocêncio IV encarrega o Bispo Bartolomeu de Espoleto para dar início ao processo de canonização de Santa Clara.

O próprio Papa, na mesma carta já a chama de “bem-aventurada virgem Clara”, como se já tivesse certeza da sua canonização.

Contudo, assim escreve ao bispo Bartolomeu: “que pesquise diligente e solicitamente a verdade sobre a vida, conversão e comportamento, e também sobre os sobreditos milagres e sobre as circunstâncias deles, de acordo com as perguntas que mandamos anexas a esta Bula”.

O Bispo foi fiel cumpridor da solicitação do Papa e imediatamente inicia o processo, ouvindo as testemunhas. Temos documentado 20 pessoas que deram o testemunho diante de um tribunal eclesiástico: 15 irmãs (companheiras de Clara), uma leiga e quatro varões.

O tribunal eclesiástico encaminha o processo ao Papa e, dois anos depois, provavelmente do dia 15 de agosto de 1255, a bem-aventurada Clara de Assis é canonizada pelo Papa Alexandre IV.

Na bula de canonização, entre tantos outros elogios que a Igreja faz a santa Clara, o Papa faz questão de dizer:

“Ó Clara, dotada de tantos modos pelos títulos da claridade! Fostes clara antes da tua conversão, mais clara na conversão, preclara por teu comportamento no claustro, e brilhaste claríssima depois do curso da presente existência” (v. 3).

2. Clara de Assis, clara de Virtude para ser santa

A Bula de Canonização elenca várias virtudes de Clara, baseado no depoimento das testemunhas. Compara a de Santa Clara como a de um jardim do qual se pode “colher uma grande variedade de virtudes” (v 35), destacando: “Clara foi vaso de humildade; armário de castidade; ardor da caridade; doçura da bondade; a primeira entre os pobres; a comandante dos humildes; força na paciência; vínculo de paz e comunhão de familiaridade; mansa de palavra; doce nas atitudes; amável e bem aceita; solicitude e prudência no temor e no serviço do Senhor; atenta nas exortações; vigilante no cuidado; prestimosa para se compadecer; discreta para se calar; madura no silêncio; etc…

3. Clara de virtude, na convivência diária

As testemunhas no Processo de Canonização enfatizam as virtudes de Santa Clara. Virtude, como aprendemos, significa “um hábito operativo bom”. Um dom especial que recebemos de Deus e que nos leva a fazer o bem.

Este hábito operativo bom foi muito eloquente na vida de Clara de Assis. Mulher virtuosa, clara de virtude, estimulou a comunidade das Irmãs Pobres do Mosteiro de São Damião no caminho da santidade.

Entre tantas virtudes que as Irmãs elencam, podemos destacar algumas:

Pureza – castidade (devolução da dignidade à mulher, virgindade) – maternidade espiritual; a santa humildade; a santa e verdadeira pobreza; a obediência; a caridade; a bondade; a compaixão; a contemplação (oração – transfigura); a prudência; etc.

4. Clara, mestra de virtudes

Clara de Favarone acolheu com largueza de alma a formação que lhe foi dada, própria das moças de família nobre (administração do lar, artes, medicina, chás). Ela transporta para o cotidiano da vida não só as virtudes já cultivadas, mas as aprofunda a partir de uma decisão que ela tomou para si mesma: “O Filho de Deus se fez para nós caminho”.

Seguir este caminho adquire na vida de Santa Clara a linguagem feminina do espelho. Colocar-se diariamente diante do espelho para enfeitar-se, adornar-se, num ritual de amor. Para Clara, a mulher virtuosa é a que contempla no espelho a Pobreza, a Humildade e a Caridade de nosso Senhor Jesus Cristo.

Este ritual diário do amor (enfeitar-se de virtudes) perpassa toda a vida de Santa Clara. Por isso sua linguagem não é mais o da carne, mas do Espírito.

Assim, neste caminhar, com pés firmes, seguros e leves, Clara diz (Carta a Ermentrudes de Bruges): “Olhe para o céu que nos convida, tome a cruz e siga o Cristo que vai à nossa frente… contemple apaixonadamente a obra que você começou e dê conta do serviço que você assumiu na santa pobreza e na humildade”.

Frei Fidêncio Vanboemmel – OFM