
“Por que jejuamos, nós e os fariseus, ao passo que os teus discípulos não jejuam?”
(Is 58, 1-9; Sl 51; Mt 9, 14-15)
- Comece sua oração fazendo os “preâmbulos” costumeiros: preparar-se para o encontro com o Senhor; fazer a oração preparatória e suplicar a graça “de deixar-se conduzir pelo Espírito durante a travessia quaresmal”.
- Prepare o terreno do coração, lendo com atenção as indicações a seguir:
Este é um traço da personalidade de Jesus que os Evangelhos destacam: Ele era um transgressor. Um transgressor consequente, a serviço da vida e dos humildes. Por isso o rejeitaram e o mataram.
Em nome de um Deus que a todos acolhe e chamam que é Pai de todos, Jesus transgrediu a norma da “boa sociedade”, mergulhou no submundo da exclusão da miséria...
Jesus provocou um grande escândalo nos seus ouvintes, sobretudo entre os fariseus, sacerdotes e anciãos do povo, que se consideravam superiores aos outros, perfeitos, cumpridores da lei e, portanto, merecedores da atenção de Deus.
Eles apresentavam-se como modelos para o povo, porque viviam atraídos por um Deus que somente eles encontraram. É duro viver ao lado de um fundamentalista, porque igualmente duro é seu “deus”.
Jesus ousou transgredir. E transgrediu fronteiras que pareciam intocáveis.
Esta é a sua novidade messiânica. Não veio complicar a vida das pessoas, com mais pesos sobre os ombros delas. Não lhes impõe uma lei, não exige que cumpram alguns preceitos religiosos. Rompe com todo o ritualismo e legalismo anterior e nos oferece uma alternativa encarnada na vida. Não se trata mais de uma imposição baseada na Lei, mas algo que todos podemos experimentar.
Transgrediu o sábado e considerou a vida prioridade. O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado (Mc 2,27).
Transgrediu a prioridade do sacrifício. Misericórdia é o que que quero, e não sacrifício (Mt9,13). Transgrediu a lei do jejum. Acaso os convidados do casamento podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? (Mt 9,15).
Para Jesus, o importante no jejum não é o que nós fazemos, mas o que Deus faz. Não estamos fazendo algo, mas estamos nos deixando fazer por Deus. Na tradição dos Padres do Deserto, o jejum é o meio que nos possibilita criar um “espaço interior vazio” no qual o Espírito possa circular livremente, destravando nossa vida.
Portanto, o jejum é um tempo em que damos maior liberdade a Deus para agir em nós, “ordenando” nossos afetos e orientando nossos impulsos instintivos.
Por isso, a melhor penitência é “abrir espaço para Deus”; em outros termos, jejuar é dar espaço para outas fomes (Nilton Bonder).
Como o próprio Jesus, precisamos cultivar a arte de transgredir a inércia, o “pensamento único”, a normalidade petrificada, a indiferença excludente...
Há sempre um mais além com que podemos sonhar.
Transgredir é transcender, é abrir estradas fechadas, é alargar horizontes estreitos, é soltar os desejos algemados.
Transgredir é inventar alternativas. É ousar é transgredir em favor da humanidade.
- Agora, numa atitude reverencial, leia calmamente o Evangelho do dia.
- Na oração, dialogue com o Senhor: diante dele procure des-velar (tirar o véu) e verificar se sua vivência cristã está mais centrada o cumprimento de normas, ritos, leis...ou no serviço e cuidado para com os outros. Seu “culto” a Deus é expressão de um compromisso ou um rito vazio, assumido por imposição? Sua experiência de encontro com Deus só se dá nos momentos de celebração ou no ritmo da vida?
- Termine agradecidamente a oração, saboreando o Salmo de hoje.
- Registre no seu caderno de vida as experiências de consolação ou desolação que se fizeram presentes durante a oração.